Acumular sapatilhas de ponta é acumular experiências e conhecimento. Elas são grandes professoras, pois a jornada nas pontas nos prepara também para enfrentar algumas situações da vida.
Aprendi com as minhas pontas que para toda escolha, a preparação e a dedicação são muito importantes. Afinal, para iniciar o trabalho de pontas precisamos antes nos familiarizar com a técnica do ballet clássico e fortalecer bastante os pés. É um ato de consciência e respeito em relação ao caminho que você escolheu seguir. Você não tem a opção de se doar pela metade se deseja dançar nas pontas. É preciso dar tudo de si. E acredito que nas grandes e importantes decisões da nossa vida, essa filosofia se aplica muito bem também.
As pontas também me ensinaram muito sobre controlar o meu temperamento, a minha ansiedade e a ter paciência. Confiar no processo. É uma das partes mais difíceis na jornada da bailarina adulta, inclusive. Afinal, tempo é uma coisa que a gente definitivamente não tem. Mas esse é o segredo para evitar lesões: respeitar nossas limitações e agir com cautela, dando um passo de cada vez.
Aprendi que cada jornada é muito própria e que existe uma sapatilha especial para cada bailarina. E não somente isso: existe também uma sapatilha para cada fase da vida de uma bailarina. Um fitting nunca é igual ao outro, cada pé conta uma história e autoconhecimento é fundamental. Precisamos descobrir nossas qualidades e particularidades, tanto para escolher bem uma ponta quanto para viver de forma plena. Na minha vida pessoal, acredito que esse processo de autodescoberta e de fazer as pazes comigo mesma tem sido o mais difícil e transformador.
Um fitting nunca é igual ao outro, cada pé conta uma história e autoconhecimento é fundamental. Precisamos descobrir nossas qualidades e particularidades, tanto para escolher bem uma ponta quanto para viver de forma plena.
Adaptabilidade e flexibilidade. Saber me adaptar a diferentes modelos e estar aberta a mais possibilidades foi libertador na minha relação com as pontas porque nem sempre podemos investir naquela sapatilha que realmente amamos. Ponta é um artigo caro e não tem uma vida útil muito longa, infelizmente. O jeito é abrir o leque, a mente e o coração. Eliminar preconceitos e conhecer algo novo. Acredito que, quanto mais velha eu fico, estranhamente mais eu percebo e aceito o valor que a mudança tem. Mudar cansa, mas faz crescer e nos enriquece. Seja na busca da sapatilha de ponta, ou na vida.
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Foto do post inspirada no trabalho da também bailarina adulta, @lucykimloves