Uma manhã com Tatiana Leskova

Semana passada, no Dia Internacional da Dança, a segunda edição da revista He Inspire I Dance, dessa vez She Inspire I Dance, iniciou sua pré-venda. O projeto terá toda a sua venda revertida para a ONG LIFT, para ajudar programas que trabalham com direitos e interesses das mulheres da Woodlane Village, situada em Pretória, na África do Sul. Mais uma vez, o meia ponta entrou como colaborador e é uma honra participar de uma edição que celebra grandes nomes femininos da dança. Uma das minhas colaborações foi na verdade um presente para mim. Uma experiência muito especial e inesquecível, que agora compartilho com vocês nesse post.

Eu procurei não pensar nesse encontro até a data em questão. Não queria ficar ansiosa. Quando a manhã de fotos chegou, eu fui recebida na casa de dona Tânia (como é carinhosamente chamada pelas pessoas no mundo da dança) e me pediram para aguardar um pouco. Tatiana Leskova entrou na sala já com dificuldade para caminhar. Educada e objetiva, já me perguntou diretamente onde eu a queria para o retrato. Eu estava tão nervosa! Pela primeira vez em anos, eu estava com medo de um trabalho. Respirei fundo e, antes, me apresentei. Disse que era uma honra e que era fã do trabalho dela. Ela disse: “mas você é muito nova para isso”. Eu respondi: “eu li todo o seu livro”. A partir dali, foi um pouco mais fácil. Já tinham me contato que a mestra apreciava ser reconhecida, mas eu não disse aquilo por dizer. Era verdade.

Em 2017, cruzei com sua biografia em uma feira de livros e a devorei em semanas. Que vida fascinante! Ela também aparecia no documentário Ballet Russes, que eu tinha em DVD. E cheguei a comentar isso com ela: “a senhora aparece em uma cena em Nova York, em um grande reencontro dos bailarinos”, eu disse. Ela prontamente me corrigiu: “Foi em Nova Orleans”. A memória dessa bailarina era impressionante! Mas disso, eu também já sabia. 

Quando entrei em seu quarto, meus olhos se enxergam de lágrimas ao ver os retratos nas paredes, os livros, o passado estampado ali; um túnel do tempo, impecavelmente preservado. Foi quando comecei a digerir a experiência (visto que na sala eu estava buscando apenas eficiência profissional). Eu estava diante de um ícone da dança, que viveu tantas histórias! 

Quando entrei em seu quarto, meus olhos se enxergam de lágrimas ao ver os retratos nas paredes, os livros, o passado estampado ali; um túnel do tempo, impecavelmente preservado. Foi quando comecei a digerir a experiência (visto que na sala eu estava buscando apenas eficiência profissional). Eu estava diante de um ícone da dança, que viveu tantas histórias! 

Tive um tempo para tomar um café ao seu lado e contar um pouquinho da minha história na dança. Ela me perguntou com quem eu fazia ballet, e eu disse que era com meu marido. Foi engraçado mostrar algumas fotos nossas em poses de pas de deux e ouvir cada crítica sobre cada detalhe: “tem que estar mais en dehors. E subir esse passé”. 🤣 Em outra foto, sozinha, ela disse que eu precisava ajeitar os pés, mas que o resto “estava bom”. Eu nunca vou esquecer esse meio-elogio de uma das mestras mais exigentes da história. ♥️ Contei que havia começado o ballet já adulta, e em um tom de “não importa”, ela disse: “mas é um ótimo exercício”. Eu traduzi no meu coração como: “continue!”. Ela autografou o meu livro e ainda me deu de presente o seu documentário. Quando eu disse: “sua vida daria um filme!” ela retrucou: “mas já tem um filme!” e pediu para sua assistente Tereza pegar o DVD. Mas dona Tânia, preciso discordar: um breve documentário em DVD não faz jus à grandeza e aos detalhes de sua vida. E espero muito que um dia alguém de fato reproduza essa história. 

Eu costumo gostar e me inspirar em pessoas que possuem fama de duronas. Talvez por eu mesma ser um pouco assim… É um fato que não fui aluna de Leskova e nunca ouvi suas exigências e duros comentários. E entendo que isso me deu uma certa licença poética para alimentar um imenso carinho por essa figura tão importante. Meu contato com ela foi diferente e foi como tinha que ser e, assim, aceito essa troca que o Universo proporcionou com imensa gratidão e admiração.

Eu fui surpreendida por essa oportunidade e só tenho a agradecer ao amigo Armando (e ao seu projeto @heinspireidance) por ter me dado esse presente. Eu imaginei muitas vezes como seria – e se aconteceria! – meu encontro com Tatiana Leskova. Nunca poderia imaginar que seria tão íntimo e especial, e com a possibilidade de fotografa-la, realizando um dos meus ofícios prediletos. Foi efêmero, e pareceu um sonho, mas foi muito intenso e inesquecível, como um bom ballet. ♥️