Esse foi o maior presente que eu poderia ter recebido no final de 2021. O dia em que eu descobri que o ballet ainda me fazia sonhar foi na manhã de Natal, nesse último dia 25. Na TV, O Quebra-Nozes, é claro, como todo ano eu coloco para assistir. Versão do Royal Opera House – a minha favorita. Sou uma fã de ballet bem previsível. Enquanto todas amam repertórios mais “animados”, como Don Quixote, os meus preferidos são “o trio Tchaikovsky” e Giselle. Por que? Porque eles encantam. E O Quebra-Nozes me arrepiou naquele dia, ao ponto de me emocionar, mesmo já tendo assistido muitas e muitas vezes.
Na verdade, após uma longa temporada em Novembro fotografando no Theatro Municipal do Rio, depois de dois anos de pandemia sem visitar o local, eu senti pela primeira vez em muito tempo aquela conexão de estar em um santuário da dança novamente – e ser grata por isso. Senti aquela velha paixão, aquela faísca, a cada novo clique que eu fazia, capturando um movimento para a eternidade. Ali, eu comecei lentamente a fazer as pazes com a dança.
“Mas quando você brigou com o ballet?”, vocês devem estar se perguntando. Eu não briguei exatamente, mas como muitas pessoas nesse fim de 2021, eu estava exausta. De tudo. E tendo o ballet e o meia ponta ocupando uns 60% da minha vida, ficou um pouco pesado e arrastado demais. Foi um ano de muitas realizações – e não me arrependo! Mas com muitas realizações, vem também muita responsabilidade, muito compromisso, muito tempo doado para essas atividades. Eu não tinha um sábado livre, por exemplo. Foram dois cursos de História da Dança (simultâneos), um evento de aniversário com Marianela, um lançamento de uma plataforma para Bailarinas Adultas, um ano inteirinho de aulas da Escola Bailarina Criativa (com a Dry, do Mundo Bailarinístico), uma Semana Bailarina Criativa, um lançamento da Aurora e claro, as aulas que, coitadas, ficaram em segundo plano. E quando as crises de ansiedade chegaram e o meu “ballet de todo dia” perdeu a prioridade, eu vi que algo estava fora do lugar.
Sabe, eu passei os últimos 3 anos “tentando fazer o meia ponta dar certo”. Eu tentei tanto que não reparei que, no fundo, ele já tinha dado – e sempre deu!
Sabe, eu passei os últimos 3 anos “tentando fazer o meia ponta dar certo”. Eu tentei tanto que não reparei que, no fundo, ele já tinha dado – e sempre deu! Desde o primeiro post escrito no Blogspot em 2009, o meia ponta deu certo. Sempre recebi elogios, mensagens lindas de gratidão, sempre tive público! Isso porque o meia ponta é feito de transparência e sinceridade. Sou eu, são as minhas vivências, o meu amor pelo ballet clássico e tudo mais o que compõe essa paixão: meu interesse pelos repertórios, pela história, por seus arquétipos e, acima de tudo, minha vontade de compartilhar e encontrar o meu lugar de pertencimento junto com outras bailarinas. São essas coisas que importam.
Nesse ano que passou, admito, acho que perdi um pouco a mão. Então, depois de tanto estímulo audiovisual, decidi iniciar esse novo ciclo escrevendo um longo post. Um post que não sei se alguém vai ler. Mas é o caminho que decido seguir por agora. Eu amo o Instagram porque foi uma rede que me permitiu me aproximar ainda mais das pessoas por meio de uma das minhas artes preferidas: a fotografia. Mas, definitivamente, não estou pronta para continuar no mesmo ritmo. Isso quer dizer que vou desistir, desativar a conta? Não, porque acredito que minha presença ali tem valor e ainda aprecio a experiência em algum nível. Mas digo com muita sinceridade: não ligo mais para engajamento ou postagens com cronograma. Estou ligando mais para ser eu mesma, e ser uma bailarina criativa saudável. Veja bem, não aconselho que você faça o mesmo se depende financeiramente da sua marca, ou está construindo algo consistente e tem dado certo. Cada um sabe do seu caminho. E aí é que está: outro grande presente que o Universo me deu foi não me tornar dependente financeiramente do meia ponta, mesmo com tantas tentativas (e olha, eu tentei!). Assim, posso ser livre. Minha dança pode ser livre.
Quero abrir espaço para amar o ballet de novo. Reencontra-lo do jeito que ele surgiu e me conquistou pela primeira vez: com leveza e encanto.
Nada foi em vão, mas não desejo retomar metade do que eu estava buscando ou tentando fazer em 2021. Eu quero a coisa simples. Quero postar no meu tempo quando tiver algo útil a dizer. Eu quero inspirar. Quero escrever com o coração, chorar nos stories, postar uma foto linda de um detalhe que ninguém repara. Quero abrir espaço para amar o ballet de novo. Reencontra-lo do jeito que ele surgiu e me conquistou pela primeira vez: com leveza e encanto.
Nossa to aqui chorando, não sei se pelo relato lindo, ou pela identificação.
Esse ano fui presenteada tendo minhas duas primeiras turmas de ballet, muita responsabilidade, montar coreografia, sendo uma turma apenas uma vez por semana (e as crianças sempre faltando às aulas), e a outra turma tendo começado em agosto.
Fiquei muito feliz, por ser o reconhecimento do meu esforço, mas a correria, sendo monitora também das outras turmas da escola, tendo que pegar ônibus, saindo muitas vezes as 23:00 da escola além de estar no meu último ano da faculdade, com o TCC, e estágios. Tudo isso foi demais para mim, chegou em um ponto que todos os dias, eu tinha crise de ansiedade quando dava a hora de me arrumar para sair, eu estava me vendo mais como professora que bailarina, e com essa confusão nem professora estava conseguindo me dedicar mais como antes. Dançar se tornou um fardo, as lesões que tive no ano ficavam só gritando no meu ouvido que eu tinha que desistir, me dedicar a minha faculdade, que tava de lado em meio a tudo isso, e olha que a minha monografia foi sobre os beneficios da dança para ajudar no tratamento psicológico, chegou em um ponto que eu lia um artigo e desarava a chorar.
Eu posterguei procurar ajuda psicológica, mas é ate compreensivel, eu tava tão quebrada emocionalmente que nem elaborar isso eu conseguia, foi quando comecei a fazer meu último estágio que me deparei com uma paciente com crise de ansiedade, eu me vi nela, e pra não ter que abrir mão dessa paciente eu tive que procurar ajuda.
E nesse processo eu to la fazendo terapia, e tentando entender tudo que aconteceu, e como vai ser daqui pra frente a minha relação com a dança, ainda não achei muito a resposta, só sei que esse ano vou ser menos rigida comigo, vou olhar mais para os meus limites, pois o preço foi muito caro tentar ser a mais forte, ultrapassar todos os meus limites, então é isso..
Obrigada pelo seu desabafo, o meu ta ai porque a gente ve em todo lugar que a dança é maravilhosa, que só trás benefícios, mas tem que ver ate que ponto.
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Querida Fabi. Fiquei muito tocada por seu comentário e partilha. Não estamos sozinhas, não é mesmo? Fico feliz que tenha contribuído de alguma forma para a sua busca pelo renascimento e pela cura depois de tudo o que passou. Siga na terapia! Sigamos juntas <3 Um beijo
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