O ano de 2025 já iniciou com muitas reflexões e atitudes que há muito tempo já queria tomar. Entre elas, a de me sentir mais confiante em relação ao que ofereço como artista, criativa e comunicadora. Como muitas mulheres desses nichos, eu sustento uma síndrome de impostora enorme (principalmente quando o assunto é ballet ), que ainda precisa de muita terapia para ser resolvia. Hoje, consigo controlar esses pensamentos destrutivos quando estou inspirada, em dias felizes ou cercada por pessoas que me amam. Mas existem também os dias difíceis em solitude, em que deixo o meu valor ser medido por visões distorcidas de quem, no fundo, não me conhece bem (ou não deseja conhecer), seja no âmbito profissional ou pessoal. Nesses momentos, eu sempre penso: isso não me define e isso eu não posso controlar. Mas o que me define, então, e o que eu posso controlar? Olhando para minha trajetória no meia ponta, vi que meu propósito como marca parou no tempo na minha comunicação, e estacionou no preconceito de que “tudo o que eu tenho para oferecer de experiência é sobre ser bailarina adulta”. E isso não é verdade — e não tem sido verdade há muitos anos.
Sim, eu iniciei no ballet na idade adulta, aos 21. E desde então, já somam 16 anos (com breves intervalos )em sala de aula e com vivência de palco. Mas nessa jornada eu também ampliei meu conhecimento, minhas experiências e minnhas trocas na dança. Li muitos livros, fiz muitos cursos de História, assisti a versões e mais versões de repertórios de diversas cias (online e ao vivo). Investi por anos na companhia da minha cidade natal (o Theatro Municipal do Rio de Janeiro) não só como espectadora mas principalmente como fotógrafa, criando um arquivo precioso de imagens quando ninguém mais queria estar ali, doando seu trabalho por amor. Fiz parcerias, frequentei eventos, desenvolvi projetos, criei e trabalhei com marcas (como influenciadora, fotógrafa, designer ou mentora), lancei a primeira viagem de ballet que unia cultura e história com vivência em aulas para todo o tipo de público (o mp Ballet Tour). Fiz contatos no mundo inteiro, desenvolvi-me como contadora de histórias por meio da minha fotografia por pura paixão a essa arte! E claro, sempre que possível, continuei dançando. Ufa! E aí, chega uma síndrome de impostora safada ou um julgamento externo e tudo cai por terra? Não, queridas. Não mais.
Portanto, escrevo isso tudo para que eu mesma possa reconhecer o tanto de estrada, o tanto de esforço, o tanto de dedicação. Para que eu, e qualquer outra pessoa que se inspire pelo meu relato, possa sentir orgulho e não insegurança.
“Dentro da minha multiplicidade, que também levo para o universo do ballet, acabei me tornando uma “pessoa da dança” — e cheguei no momento de finalmente me assumir como tal.”
Lendo o post da Kamila Cidrim sobre a inspiradora Alicia Cohim e sobre ser uma “pessoa da dança“, entendi que é exatamente nesse lugar que eu me encaixo. Dentro da minha multiplicidade, que também levo para o universo do ballet, acabei me tornando uma “pessoa da dança” — e cheguei no momento de finalmente me assumir como tal. Por isso, não, eu não sou apenas a bailarina adulta que iniciou aos 21. E não poder estar toda semana em uma sala de aula nessa fase específica da minha vida não tira a minha credibilidade como pessoa da dança. Além de uma profissional múltipla, que correu atrás de cada uma de suas oportunidades, também sou quase mestra, pois estou prestes a concluir um Mestrado em Design e Cultura Visual na Universidade Europeia — IADE, em Lisboa. E pretendo levar os planos acadêmicos para além, e carregar a dança junto, como sempre fiz. Não é pouca coisa. É toda uma vida de dedicação, esforço, paixão, estudo e criatividade.
Então, queridas leitoras, proponho que vocês também façam uma revisão, uma reflexão sincera, e pesem todos os seus feitos, pois tenho certeza de que foram muitos e admiráveis também! Não vamos nos definir apenas como as pessoas pensam que somos, ou o que a sociedade dita como regra. Sobre a nossa definição, nós temos o controle. O resto, é fazer por onde para criar ou sustentar nossa credibilidade.
Daqui pra frente, serei pessoa da dança, e isso engloba ser comunicadora da dança, fotógrafa de dança, mentora de marcas de dança e bailarina adulta. Então, essa é uma das primeira decisões profundas e também estratégias para a marca a partir desse ano: vou deixar a definição “bailarina adulta” como destaque para trás. Ainda sou, mas não posso me deixar ser resumida a apenas uma das minhas características. E espero que vocês também não se deixem. No mais, quero voltar a escrever, porque é isso que amo fazer, e quero pensar e sentir o ballet com a profundidade que eu sei que essa arte merece. Celebrar a grandeza que ele tem na minha vida. E espero que vocês queiram ficar por aqui para saber onde todo esse novo mundo vai me levar.
Com amor, Carol
foto em destaque: Amanda Braide, Pointe Shots.
